Objetos transnetunianos (TNOs) constituem uma população de pequenos corpos planetários situados além da órbita de Netuno, ou seja, estão afastados do Sol mais de 30 vezes a distância que separa a Terra do Sol (cerca de 150 milhões de quilômetros). Isto faz com que tais objetos tenham sofrido poucas alterações ao longo do tempo e, por isso, são preciosas fontes de informação sobre a história e a evolução do sistema solar exterior.
Os vídeos acima referem-se a uma importante descoberta, feita em 2013, de um sistema de anéis ao redor de Chariklo. Trata-se do primeiro corpo do sistema solar, além dos planetas gigantes (Júpiter, Saturno, Urano, Netuno) no qual se detecta claramente tal estrutura. Chariklo pertence a uma classe de objetos denominada Centauro (e não TNO). Centauros, no entanto, são “primos” dos TNOs e, como consequência, guardam semelhanças com eles. Por isso o interesse em estudá-los.
Vídeo da esquerda [1]: sequência real de imagens, obtidas em intervalos de 0.1s, no European Southern Observatory (ESO, Chile/La Silla). Perceba que a imagem da estrela brilhante ao centro dá uma “piscadela”, desaparece, reaparece, e dá então uma última “piscadela”.
Vídeo da direita [2]: concepção artística para interpretar a sequência de imagens vista na figura ao lado. Dados de outros telescópios, situados em localidades diferentes e que observaram o mesmo evento, também contribuíram para essa interpretação. Note que nenhum dos telescópios utilizados nesse estudo tem capacidade para enxergar diretamente o sistema de anéis (ou seja, não conseguem obter uma imagem na qual vê-se Chariklo ou seus anéis)! No entanto, ao ocultar uma estrela, mesmo um telescópio de tamanho modesto é capaz, através de uma sequência rápida de imagens, de detectar a obstrução da luz e saber que há algo interessante a ser pesquisado.
[1] Crédito: Telescópio Dinamarquês de 1.54m localizado no ESO, equipado com a câmera “Lucky Imager” do consórcio “Microlensing Network for the Detection of Small Terrestrial Exoplanets”.
[2] Crédito: Nature/Lucie Maquet.
Nossa participação no Dark Energy Survey (DES), bem como o suporte dado pelo LIneA, nos permitirão dar um passo ao mesmo tempo ambicioso e necessário: conseguir estudar TNOs de brilho muito tênue (centenas de milhões a dezenas de bilhões de vezes mais fracos que as estrelas que vemos a olho nú no céu noturno), avançando mais profundamente sobre um mundo ainda desconhecido, bem como obter o “know-how” de trabalho num ambiente de grandes massas de dados. Este último, em particular, é requisito para uma participação bem sucedida no Large Synoptic Survey Telescope (LSST).